Balada da Meretriz Ensanguentada (Luna Seaworth)

4 mar

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Noite, lua, árvores, carro.

Sapato lustrado, terno caro, cabelo arrumado.

Roupa colante, andar vacilante,

Lágrima persistente, sorriso forçado.

Tapas seguidos de mordidas, lambidas, gritos,

Cabelos puxados, vestido rasgado.

A dor penetra-me até dentes e ossos,

O membro parte-me o corpo ao meio.

Minh’alma enlouquece de remorso,

Um cigarro é apagado em meu seio.

Mãos cruéis agarram meu pescoço, cortando a respiração,

Enquanto seu prazer é satisfeito.

Quase sinto alívio, pensando que a tortura está acabando mas acabará do seu jeito. Arrancas com o carro, eu não tenho forças para levantar,

Avisto uma estrada de terra, erma.

Penso em mamãe e como ela ficara só e sei que mais ninguém chorará sua perda.

Me arrastas o corpo para fora, eu avisto as estrelas

E peço misericórdia a Deus, pois sei que tu não terás,

Ele me ouve, pois agora estou vendo de longe,

Uma jovem ensanguentada, maquiagem borrada.

O sádico ri enquanto a faca transpassa trinta vezes o corpo que era meu,

E atravessa meu pescoço.

Ele esvazia a garrafa de vodka e risca um fósforo que joga sobre o cadáver, corre um cachorro.

Agora o assassino dá lugar ao respeitável executivo, com medo de ser pego, adentra o carro e vai.

Voltará ao seu chique edifício, se limpará com esmero enquanto eu já não existo mais.

Autora: Luna Seaworth

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